quinta-feira, 13 de junho de 2013

ORFEÃO DO CLUBE PORTUGUÊS – primeira parte

Recepção a Rainha da Colônia Portuguesa no Brasil, srta. Leopoldina Bello (ao centro), em 18/4/1932.
Ao fundo vemos os membros do Orfeão do Clube Português e convidados

           Idealizado em novembro de 1931 pelo cônsul adjunto de Portugal em São Paulo, Dr. Álvaro Brilhante Laborinho, durante uma conversa com o Dr. José Augusto de Magalhães, cônsul de Portugal.
            Em Piracicaba, interior de São Paulo, já existia um orfeão, que alcançou êxito, sendo o Orfeão do Clube Português o segundo a surgir no estado.
            Após a exposição da ideia a diretoria do Clube, alguns dirigentes convidaram a mocidade portuguesa e paulista, de ambos os sexos, para organizar o orfeão.
            O afamado maestro Giuseppe Manfredini tomou para si a responsabilidade da orientação artística.
            A comunidade lusa na capital bandeirante já estava beirando 60.000 emigrantes. Portugal tem um folclore rico e expressivo, de profunda emotividade. E a proposta do orfeão era exatamente trazer para seus patrícios, saudosos da sua pátria, um pouco da cultura para matar as saudades e, também, estabelecer contato entre os membros da colônia e fortalecer o espírito associativo, cultivando o gosto pela música.
            O grupo foi formado por sócios e não sócios da entidade. Desta segunda categoria, constavam alguns imigrantes que eram trabalhadores braçais do comércio no centro da cidade, onde estava a sede do Clube, que após um dia duro de trabalho encontravam um lenitivo nos ensaios semanais.
            Os membros do orfeão animaram com sua arte muitas festas de caridade, que solicitavam a sua colaboração e promoção.
            A primeira apresentação do conjunto aconteceu no salão nobre do Clube Português, depois de cansativos ensaios, aos 11 de abril de 1932, durante a festa em tributo a “Rainha da Colônia Portuguesa no Brasil”, a srta. Leopoldina Bello, vinda especialmente do Rio de Janeiro, em companhia da Srta. Isalinda Seramota, cantora de fados do rádio carioca. Em seguida, o orfeão tomou parte durante uma conferência sobre literatura no “Dia da Colônia”, em 14 de junho de 1932, também na sede da entidade.
            Seguidamente a formação do orfeão, a srta. Maria Antônia da Costa constituiu o “Grupo de Danças Regionais” do Clube Português. Anteriormente, em várias ocasiões, esposas e filhas dos sócios costumavam organizar um rancho do Minho e outro de Coimbra para se apresentarem em determinadas festividades.
            A menina Zalir Moraes era apaixonada por poesia e cedo revelou-se uma excelente declamadora. Além de fazer parte do orfeão e do grupo de danças, era sempre solicitada como número extra para recitar poesias nas apresentações do Clube.
            Em 7 de setembro de 1932 se deu a maior e mais importante apresentação do Orfeão do Clube Português: no palco do Theatro Municipal. Tratou-se de um recital artístico e beneficente em prol da Cruz Vermelha e da Cruz Azul.


Vários membros do Orfeão do Clube Português após um ensaio, 1932

           O espetáculo foi dividido em três partes, a primeira e a terceira a cargo do orfeão sob a regência do maestro Manfredini, e a segunda constou de guitarradas, versos, cantos e solos de violino.
            Na primeira parte foi apresentado pelo orfeão: 1º. Hino Nacional brasileiro, 2º. A Portuguesa, 3º. São João, Coutinho de Oliveira; 4º. Trovas ao luar, A. Sarti; 5º. Zé Pereira, Armando Leça e 6º. II Ritorno, J. Heine (1818). Na terceira: 1º. Vai falando, A. Sarti; 2º. Canção bisbilhoteira, A. Sarti / G. Manfredini; 3º. Tutú Marambá, Savino de Benedictis e 4º. Aleluia, F. Moutinho / G. Manfredini.
            Na segunda parte foi oferecido ao público solos de guitarra por João Fernandes - que dois anos depois levaria ao ar o primeiro programa de músicas portuguesa do rádio paulistano-, acompanhado por Santos Moreira; declamação de versos de Silva Tavares, Luiz de Freitas Branco, Mário de Andrade e A. Sarti e solos de violino pelo prof. Torquato Amore.
            Este espetáculo repercutiu da melhor maneira possível nos principais jornais e revistas da cidade.

O Orfeão na escadaria do Theatro Municipal de São Paulo. Maria Antônia da Costa está com o rosto circulado. No centro
está o maestro Giuseppe Manfredini

            Em dezembro de 1932, o orfeão foi convidado para realizar dois festival em Santos-SP, no Teatro Coliseu, o mais charmoso da cidade. Seguiram viagem no último comboio da estação da Luz, na noite de 9 de dezembro, o maestro Manfredini, o professor Carlos de Paiva Carvalho, diretor do grupo oral do orfeão, 125 orfeonistas e seus acompanhantes (familiares). O primeiro espetáculo, de gala, aconteceu na noite de 10 de dezembro, contando com uma seleta plateia composta da melhor sociedade luso-santista, o segundo show teve lugar na tarde do dia 11 de dezembro.
            Do programa apresentado constaram páginas musicais dos maiores folcloristas portugueses e brasileiros e, também, alguns trechos de música erudita subscritas por autores de renome.
            Mais uma vez os esforços de Maria Antônia da Costa em prol do conjunto mereceu destaque nas páginas dos jornais santistas: “Habilíssima e paciente preparadora de baile, a srta. Maria Antônia, arranjou números de bailados e cantos como organizadora do elenco de danças regionais, para preencher o programa do grupo de artistas amadores.” (Diário de S. Paulo, 7/12/1932).
CONTINUA...

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