Recepção a Rainha da Colônia Portuguesa no Brasil, srta. Leopoldina Bello (ao centro), em 18/4/1932. Ao fundo vemos os membros do Orfeão do Clube Português e convidados |
Idealizado
em novembro de 1931 pelo cônsul adjunto de Portugal em São Paulo, Dr. Álvaro
Brilhante Laborinho, durante uma conversa com o Dr. José Augusto de Magalhães,
cônsul de Portugal.
Em Piracicaba, interior de São
Paulo, já existia um orfeão, que alcançou êxito, sendo o Orfeão do Clube
Português o segundo a surgir no estado.
Após a exposição da ideia a
diretoria do Clube, alguns dirigentes convidaram a mocidade portuguesa e
paulista, de ambos os sexos, para organizar o orfeão.
O afamado maestro Giuseppe
Manfredini tomou para si a responsabilidade da orientação artística.
A comunidade lusa na capital
bandeirante já estava beirando 60.000 emigrantes. Portugal
tem um folclore rico e expressivo, de profunda emotividade. E a proposta do
orfeão era exatamente trazer para seus patrícios, saudosos da sua pátria, um
pouco da cultura para matar as saudades e, também, estabelecer contato entre os
membros da colônia e fortalecer o espírito associativo, cultivando o gosto pela
música.
O grupo foi formado por sócios e não
sócios da entidade. Desta segunda categoria, constavam alguns imigrantes que
eram trabalhadores braçais do comércio no centro da cidade, onde estava a sede
do Clube, que após um dia duro de trabalho encontravam um lenitivo nos
ensaios semanais.
Os
membros do orfeão animaram com sua arte muitas festas de caridade, que
solicitavam a sua colaboração e promoção.
A primeira apresentação do conjunto
aconteceu no salão nobre do Clube Português, depois de cansativos ensaios, aos 11 de abril de 1932, durante a
festa em tributo a “Rainha da Colônia Portuguesa no Brasil”, a srta. Leopoldina
Bello, vinda especialmente do Rio de Janeiro, em companhia da Srta. Isalinda
Seramota, cantora de fados do rádio carioca. Em seguida, o orfeão tomou parte durante uma conferência sobre literatura no “Dia da Colônia”, em 14 de junho de 1932, também na sede da entidade.
Seguidamente a formação do orfeão, a
srta. Maria Antônia da Costa constituiu o “Grupo de Danças Regionais” do Clube
Português. Anteriormente, em várias ocasiões, esposas e filhas dos sócios
costumavam organizar um rancho do Minho e outro de Coimbra para se apresentarem
em determinadas festividades.
A menina Zalir Moraes era apaixonada
por poesia e cedo revelou-se uma excelente declamadora. Além de fazer parte do
orfeão e do grupo de danças, era sempre solicitada como número extra para
recitar poesias nas apresentações do Clube.
Em 7 de setembro de 1932 se deu a
maior e mais importante apresentação do Orfeão do Clube Português: no palco do
Theatro Municipal. Tratou-se de um recital artístico e beneficente em prol da
Cruz Vermelha e da Cruz Azul.Vários membros do Orfeão do Clube Português após um ensaio, 1932 |
O
espetáculo foi dividido em três partes, a primeira e a terceira a cargo do
orfeão sob a regência do maestro Manfredini, e a segunda constou de
guitarradas, versos, cantos e solos de violino.
Na primeira parte foi apresentado
pelo orfeão: 1º. Hino Nacional brasileiro, 2º. A Portuguesa, 3º. São João,
Coutinho de Oliveira; 4º. Trovas ao luar,
A. Sarti; 5º. Zé Pereira, Armando
Leça e 6º. II Ritorno, J. Heine
(1818). Na terceira: 1º. Vai falando,
A. Sarti; 2º. Canção bisbilhoteira,
A. Sarti / G. Manfredini; 3º. Tutú
Marambá, Savino de Benedictis e 4º. Aleluia,
F. Moutinho / G. Manfredini.
Na segunda parte foi oferecido ao
público solos de guitarra por João Fernandes - que dois anos depois levaria ao
ar o primeiro programa de músicas portuguesa do rádio paulistano-, acompanhado
por Santos Moreira; declamação de versos de Silva Tavares, Luiz de Freitas
Branco, Mário de Andrade e A. Sarti e solos de violino pelo prof. Torquato
Amore.
Este espetáculo repercutiu da melhor
maneira possível nos principais jornais e revistas da cidade.O Orfeão na escadaria do Theatro Municipal de São Paulo. Maria Antônia da Costa está com o rosto circulado. No centro está o maestro Giuseppe Manfredini |
Em
dezembro de 1932, o orfeão foi convidado para realizar dois festival em
Santos-SP, no Teatro Coliseu, o mais charmoso da cidade. Seguiram viagem no
último comboio da estação da Luz, na noite de 9 de dezembro, o maestro
Manfredini, o professor Carlos de Paiva Carvalho, diretor do grupo oral do orfeão,
125 orfeonistas e seus acompanhantes (familiares). O primeiro espetáculo, de
gala, aconteceu na noite de 10 de dezembro, contando com uma seleta plateia
composta da melhor sociedade luso-santista, o segundo show teve lugar na tarde
do dia 11 de dezembro.
Do programa apresentado constaram
páginas musicais dos maiores folcloristas portugueses e brasileiros e, também,
alguns trechos de música erudita subscritas por autores de renome.
Mais uma vez os esforços de Maria
Antônia da Costa em prol do conjunto mereceu destaque nas páginas dos jornais
santistas: “Habilíssima e paciente preparadora de baile, a srta.
Maria Antônia, arranjou números de bailados e cantos como
organizadora do elenco de danças regionais, para preencher o programa do grupo
de artistas amadores.” (Diário de S. Paulo, 7/12/1932).
CONTINUA...
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