terça-feira, 31 de março de 2015

Sacadura Cabral



Artur de Sacadura Freire Cabral, mais conhecido por Sacadura Cabral foi um aviador e oficial da Marinha Portuguesa.

Entre as diversas travessias aéreas memoráveis que realizou, é preciso notar uma das mais arriscadas e grandiosas. Em 1922, efetuou com Gago Coutinho a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.

A viagem teve fim em junho do mesmo ano, e em julho o navegador aéreo passou por São Paulo. O Clube Português teve a honra de recebê-lo em sua primeira sede em um palacete à Rua Conselheiro Crispiniano.

A Biblioteca Portuguesa de São Paulo tem documentado em diversos periódicos essa viagem, assim como algumas matérias sobre a vida de Sacadura.


Confira abaixo uma entrevista concedida à Revista ABC, nº90, em março de 1922:

"Entramos na doca do Bom Sucesso. São três horas da tarde. A chuva violenta, forte, cai sôbre a cidade e sôbre as águas tranqüilas do rio. O mar está sereno, quito, quási triste, pardacento. Os "hangars" estão fechados e os marinheiros recolhidos. A doca do Bom sucesso está abandonada ao mar que a toca sempre, umas vezes violento, agora brando, triste. O capitão Sacadura teve a gentilesa de nos esperar. Estamos na secretaria da Aviação Maritima. Passam vários oficiais. O capitão Sacadura, forte, baixo, a face queimada pelo vento, o olhar sempre vivo, voz de comando, rude e gentil, recebe-nos junto da janela do seu gabinete. Veste um casaco de oleado e fuma.
Acolhe friamente as nossas perguntas, esquiva-se, não tem interesse em que seu nome ande pelos jornais e mais gostava que a aviação Marítima ficasse esquecida do público, longe dos jornais para que, nos períodos de revolução, ninguém se lembrasse dela ‒ ninguém a incomodasse.
Nós já várias vezes tinhamos entrado naquela doca e temos notado que ali sempre se trabalha e já uma vez, o seu ilustre comandante tivéra a gentilesa de nos mostrar os aparelhos e depois fizemos um pequeno passeio no Tejo, quando da vinda dos americanos a Lisboa. Foi esta a primeira vez que lá voltamos depois. O mesmo aspecto, o mesmo mar, rolando junto da muralha.
‒ Sabemos que V. Ex.ª tenciosa ir ao Brazil...
‒ Sim.
‒ Quando?
‒ Ainda não sabemos. Estamos trabalhando e se alguma coisa se resolver, partiremos daqui no fim dêste mês. Está tudo ainda por resolver. Téem saído vários notícias a nosso respeito e nenhuma delas é verdadeira. Não gosto de afirmar aquilo que não faço; só falo nas coisas depois de as ter realizado. Nós os portugueses somos muito de hipoteses. É mau costume. É um defeito da raça. A nossa viagem à Madeira fez-se no máximo silêncio. Combinou-se, partimos. Não foram precisos reclames. Quando voltámos fiz uma conferência e nada mais.
‒ O govêrno recebeu agrado a notícia?
‒ Sim.
‒ A ideia foi de V. Exª?
‒ Sim. Lembrei-me de ir ao Brazil; se conseguir realizar o meu projecto, bem, no caso contrário não era preciso falar nele.
‒ Quando tem V. Exª a certeza?
‒ No dia 25. Se os navios partirem até ao fim do mês, é porque iremos. Tenciono fazer escala pelas Canárias.
‒ Quando tempo tenciona levar?
‒ É impossível dize-lo. Depende de tudo, é provavel que nem sempre tenhamos condições favoraveis para voar. Depende de muita coisa.
‒ Qual é o aparelho?
‒ Estamos a construi-lo. Posso dizer-lhe que é mais pequeno do que aquele em que fizemos a travessia para a Madeira.
‒ Se realizarem a travessia, voltarão ao aparelho?
‒ Não, é impossivel. Ficaremos até ao final das festas e depois...
O capitão Sacadura responde-nos distraidamente, mostrando por vezes que pouco o interessava falar sôbre planos não assentes.
‒ Os cruzadores deverão acompanha-los em todo o percurso...
‒ Naturalmente. Nós precisamos ser abastecidos pelo caminho. Os depósitos não podem transportar tanta gazolina. Veremos. Só depois falarei dessa viagem, por enquanto todo o trabalho é pouco...
Um apêrto de mão. O capitão Sacadura ficou ainda junto da janela do seu gabinete, fumando o seu cigarro.
O nosso encontro tinha sido rápido. Frases curtas, enfado pela conversa. O capitão Sacadura, distraido, naturalmente a pensar na sua monumental travessia, o primeiro aviador português que atravessou o oceano, que se abalançou na incerteza da imensidade do Atlântico...
O seu rosto firme, acostumado a ordenar nada divulgava.
O mesmo aspecto, quando entramos e quando saimos. A chuva continuava a cair violenta sôbre a cidade. O céu pardacento, o mar esverdeado, pouca luz, tarde de primavera ‒ quási tarde de inverno.
Nós pensavamos. Atrai-nos aquela travessia, o oceano imenso e azul e depois o Brazil, a nossa pátrica irmã, terra onde se fala a nossa lingua e onde tudo lembra Portugal.
Portugal que atravessando mares nunca vizitados, foi arrancar essa terra-maravilha ao fundo da ignorância em que viviam todos os povos.
Ali, na doca do Bom Sucesso, a história das descobertas passou toda junto de nós. O progresso, a civilização, modificou os meios de transporte e agora, pleno Século XX, será outro português, um aviador dos nossos que pela primeira vez ‒ a história repete-se ‒ irá procurar atravez de ventos pouco vizitados, a pátria irmã de Alem-Oceano, por quem nós nutrimos especial amizade, adentro do concêrto das nações. Um aviador português dos mais ilustres fará parar o seu aparelho junto das terras de Santa Cruz.
Dentro dêsse avião irá a alma portuguesa, saudar o Brazil e mostrar mais uma vez que nenhuma rivalidade existe entre os dois povos, antes pelo contrário, dia a dia, se estreitam mais os laços de amizade que se até hoje tem vivido no campo do sonho e na alma dos poetas dos paises que muito se estimam e muito sabem amar o seu valor intriseco que na origem é quási igual. Só tem a separa-lo o imenso Oceano que provavelmente será atravessado por um ilustre aviador português."

A próxima exposição do Departamento Cultural, no próximo mês, será focada nesse ilustre aviador, não perca!

quarta-feira, 18 de março de 2015

Nova sessão: banco de dados!

Você gostaria de conhecer mais sobre o acervo literário da Biblioteca Portuguesa de São Paulo?

Um novo espaço foi adicionado ao nosso blog: o banco de dados! Lá será possível consultar quais são os materiais que estão disponíveis para pesquisa, os diversos livros e periódicos luso-brasileiros que encontram-se na nossa biblioteca.
Esta área está em construção e novos dados serão adicionados posteriormente, mas no momento você já pode visualizar a listagem dos periódicos brasileiros.


A Biblioteca está aberta para visitação de segunda à sexta, das 09h às 15h30. O agendamento pode ser realizado através do telefone (11) 3663-5953, ou pelo e-mail: biblioteca@clubeportuguessp.com.br