Constitui uma tradição, desde a fundação do Clube Português, em 1920, as comemorações no mês de junho em tributo a memória de Camões, o maior poeta da literatura portuguesa.
No ano de 1934, a efeméride contou com uma grande festividade conforme a transcrição da matéria publicada no jornal O Estado de S.
Paulo de
6/6/1934:
"Prosseguiram ontem, com o mesmo
brilho, as solenidades da Semana Camoniana, promovida pelas Escolas da Colônia
Portuguesa, com a colaboração das associações lusas de São Paulo.
À tarde, com a presença do Dr.
Murtinho Nobre de Mello, ilustre embaixador de Portugal, tenente Benedicto P.
França, representante do Sr. Chefe de Polícia, Dr. Francisco Azzi, diretor
geral de ensino, cônsul de Portugal, vice cônsul adjunto, Dr. Carlos Malheiros
Dias, Affonso Taunay, Dr. Joaquim Marra, Dr. Ricardo Severo e outras pessoas de
destaque portuguesas e brasileiras, deu-se a festiva inauguração da Exposição
Camoniana, instalada na Biblioteca Portuguesa de São Paulo, no Clube Português.
A vasta sala q ue o Clube lusitano da Avenida São João
consagrou a essa mostra de livros camonianos apresentava àquela hora um aspecto
festivo. Numerosas famílias haviam se reunido no Clube, tomando os seus salões
lindamente decorados. Uma orquestra enchia de notas alegres o ambiente.
Com a chegada do Dr. Martinho Nobre
de Mello, foi franqueada a sala da biblioteca e os visitantes puderam apreciar
a beleza daquele conjunto. Ao centro da sala, a Cruz de Cristo, constituída por
tufos de flores vermelhas e brancas, e separada pelas hastes de cruz das
caravelas, as diversas seções do mostruário. Viam-se também, além das obras que
ontem enumeramos diversos mármores, bronzes, gravuras antigas, entre as quais
uma vista de São Paulo de 1600, e trabalhos recentes, contando-se entre eles o
célebre carvão “Camões lendo os Lusíadas”, por Antônio Carneiro.
O Sr. J. Machado, apresentou os
resultados daquela iniciativa improvisada mais acolhida com simpatia por toda
parte.
O embaixador de Portugal saudou
aquele esforço, congratulando-se com a colônia lusa desta capital pela sua
magnífica realização. Depois aproveitou a oportunidade para despedir-se de seus
amigos, pois devia regressar ontem mesmo para o Rio de Janeiro.
À noite, na velha e tradicional
Sociedade Beneficente Vasco da Gama, no Brás, realizou-se uma grande reunião,
durante a qual diversos oradores se fizeram ouvir. Abriu-a o Dr. Silva Taveira,
cônsul adjunto nesta capital, saudando os portugueses ali reunidos.
Em seguida, o Dr. Marques da Cruz,
diretor pedagógico das Escolas da Colônia Portuguesas de São Paulo, apresentou
à assistência o Dr. Maximiliano Ximenes, que iniciou sua conferência sobre
“Camões, poeta lírico”. Todos os oradores foram calorosamente aplaudidos pela
numerosíssima assistência.
Seguiu-se o Grupo Regional de Danças
do Clube Português que, com o agrado de sempre, fez-se ouvir nas suas
deliciosas interpretações. E, assim, a festa prosseguiu ainda por muito tempo,
deixando em todos que já estiveram a melhor das impressões. O Sr. Manuel Moraes
Pontes, digno presidente da S. B. Vasco da Gama foi de inexcedível gentileza
para com seus convidados.A propósito da inauguração da Semana Camoniana, o Dr. Malheiro Dias recebeu por intermédio do Dr. Ricardo Severo o seguinte telegrama:
“Estou aí em espírito, ouvindo sua
grande voz rolando na onda camoniana com a mesma grandeza imortal” – Gilberto
Amado”.
Quatro anos antes, em 6 de julho de 1930, foi inaugurado o busto de Camões na Biblioteca Portuguesa de São Paulo (atual Biblioteca João Alves das Neves), de autoria do escultor Rodolpho Pinto do Couto.
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