Organizados
pelo Clube Português com danças de roda, cantigas, guitarradas, descantes,
bailados e desafios com os grupos do Minho e de Coimbra (trincanas e estudantes), os festejos do São João ocorreram na noite de 23 junho de 1923, no Jardim da Aclimação (hoje Parque da Aclimação).
Formaram-se dois grupos: os
minhotos apresentaram as seguintes canções populares: A moda da Rita, As alcachofras, O ribeirinho, As fogueiras, A rolinha e
Amor saloio. Os
coimbrenses interpretaram: Apanhar o
trevo, Os serranos, Alvoradas, Viras tu Viro eu, O balance e A chula.
Antes
da festa começar, o bibliotecário e diretor cultural da entidade, Antônio D’Almeida
D’Eça recitou “Reinações na noite de S. João”, não encontramos referências ao autor:
Ao
bater das vinte e meia
(Pra
que a moderna se diga)
No
ar estoiram as bombas,
Rebenta,
em baixo, a bexiga!
O
Zé da Gaita, imponente,
Ao
do bombo faz sinal!
Tudo
bufa; e desses bufos
Sai
o Hino inicial!
Ao
som da banda, que anima
O
recinto da folia,
Entra
em cena a Tia Anica,
O
Manél, Mail – a Maria!
A
Tia vem, já se vê,
Para
maior luzimento,
A
cabeça do cortejo
Repimpada
num jumento!
E
para animar o bicho,
(Criança
a pedir carinhos)
Harmoniza-se as orelhas
O
Zé que toca os ferrinhos!
Sebastião
vem depois
Junto
da cara metade;
Ela
montada; ele a butes,
Para
andar mais à vontade.
E
se o burro, não puder
Com
tamanho contrapeso,
Sebastião
aguentará
Porque
é forte, rijo e teso!
O
Victorino, que é fino,
E
tem dedo pro negócio,
Leva
o Barbosa p’lo braço,
E
vai lhe dizendo: “Ó sócio,
Repara
nesta alegria,
Neste
povo tão bonzinho,
Que
nos vai pagar os bolos
E
engolir o rico vinho!
Mas
haja lume no olho,
Pois
com tanta animação,
Não
faltará quem avance,
Pra
no fim ferrar o cão!”
Logo
depois vêm os “Caixas”
A
rufar com toda a gana
Mostrando
não ser preciso
Que
lhes bufem co’uma cana!
O
Isidro e a Genoveva,
Vem
atrás dando à perna,
E
neste dar tão gaiteiro,
Dão
entrada na taberna.
A
seguir dá-se começo
A
função de dar ao dente;
Os
bolos passam da tenda
Para
a guela da gente.
Das
pipas jorra o verdasco,
Dos
pratos saltam as iscas,
E
nesta grande folgança,
Neste
petisco-petiscas,
Ouvem-se
fora arruídos,
Estalos,
risos, descante:
-
São trincanas que chegam
P’lo
braço dos estudantes;
São
os Maneis e as Marias
Que
do Minho vão mostrar
A
viva graça do povo
Na
arte de bem dançar.
Rapazes
e raparigas,
Na
mais bela animação,
Começam
as desgarradas
Em
honra a S. João.
Desafios,
guitarradas,
Fadinhos,
danças, canções,
Tudo
ali é permitido,
Tudo,
sim, menos pifões!
Nem
pifões, bem bebedeiras,
Nem
graxa, rosca ou cartola!
Porque,
enfim, tudo é tachada,
Tudo
diz: peso na bola!
Quando
muito, é tolerável,
Como
antiga e alegre prática,
Ter
um grãozinho na asa
Ou
dois dedos de gramática!
Por
isso, ninguém suponha
Que
se pode alambazar,
Sem
que ao nosso Regedor
Tenha
contas a prestar!
Vai
ser uma reinação,
Uma
festa por aí fora,
Desde
o princípio da noite
Até
ao romper da aurora.
E
não vai mais pra diante
Porque
a vida são dois dias
E
o canastro, a pedir cama,
Não
vive de romarias!
Na
barraca, a Tia Anica,
Sem
nada mais pra trincar,
Fecha
a porta, apaga a vela,
Ferra
o galho, e entra a nanar!
E
depois de tudo isto
Quem
é que bebe do fino?
Quem
preparou a festança?
Ora
quem?!
A moda da Rita
Seu eu quisera amores
Tinha mais d'um cento,
Bonecos de palha
Olaré!
Cabeças de vento.
Esta foi a moda
Que a Rita cantou:
Lá na Praia Nova
Olaré!
Ninguém lhe ganhou.
Ninguém lhe ganhou,
Ninguém lhe ganhava,
Esta era a moda
Olaré!
Que a Rita cantava.
Se eu quisera amores
Tinha-os às mãos cheias,
Rapazinhos loiros
Olaré!
Que vêm das aldeias.
Esta foi a moda
Que a Rita cantou:
Lá na Praia Nova
Olaré!
Ninguém lhe ganhou.
Ninguém lhe ganhou,
Ninguém lhe ganhava,
Esta era a moda
Olaré!
Que a Rita cantava.
Eu não quero amores,
Quem gosta repete;
Se uma mor se vai
Olaré!
Ficam seis ou sete.
Esta foi a moda
Que a Rita cantou:
Lá na Praia Nova
Olaré!
Ninguém lhe ganhou.
Ninguém lhe ganhou,
Ninguém lhe ganhava,
Esta era a moda
Olaré!
Que a Rita cantava.
Se eu quisera amores
Tinha-os aos punhados,
Mas não quero amores,
Olaré!
Não quero cuidados.
Esta foi a moda
Que a Rita cantou:
Lá na Praia Nova
Olaré!
Ninguém lhe ganhou.
Ninguém lhe ganhou,
Ninguém lhe ganhava,
Esta era a moda
Olaré!
Que a Rita cantava.
Tipos de Coimbra |
Apanhar o trevo
Quem está bem deixa-se estar
E eu não posso estar melhor;
Estou a beira de quem amo,
Não há regalo maior.
Apanhar o trevo,
Ó Maria, não te encolhas.
Apanhar o trevo,
O trevo de quatro folhas.
Nossa Senhora faz meia
Com linha de luz;
O novelo é a lua cheia,
As meias são pra Jesus.
Apanhar o trevo,
O trevo no chão,
Apanhar o trevo
Na manhã de São João.
Amas a Nosso Senhor,
Que morreu por toda a gente;
Só a mim não tens amor,
Que morro por ti somente.
Apanhar o trevo,
O trevo na areia,
Apanhar o trevo
Na noite de lua cheia.
Se queres que te não queira,
Pede a Deus pra que me chame:
Pois nem Deus d'outra maneira
Consegue que eu não te ame.
Apanhar o trevo,
O trevo no cisco
Apanhar o trevo
No dia de São Francisco.
Coimbra, toda em descantes,
É uma guitarra a chorar;
As cordas são as amantes,
O trovador é o luar.
Apanhar o trevo,
Ó Maria, não te encolhas.
Apanhar o trevo,
O trevo das quatro folhas.
***
Todas as cantigas destes festejos foram editadas em um livreto pela secretaria do Clube Português, composto e impresso nas oficinas de Júlio Costa & Cia (sócio fundador da entidade). A venda arrecadada com os livretos foram revertidas em benefício do monumento do Dr. Pereira Barreto e das Caixas Portuguesas de Repartição. Os desenhos do livro são de autoria do artista José Wasth Rodrigues, o mesmo que fez o ex-libris da biblioteca do Clube.
Grupo de Coimbra: cantadeiras e tocadores |
Grupo Minhoto |
Todas as fotos desta postagem pertencem ao acervo da Biblioteca Portuguesa de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário